08.05.2025 12H23
Uma extensa investigação sobre ecossistemas microbianos no oceano profundo revelou uma quantidade inédita de novas espécies que vivem na chamada “zona hadal”. Os pesquisadores identificaram que 89,4% dessas espécies nunca tinham aparecido em registros científicos anteriores.
A Universidade Jiao Tong de Xangai, na China, coordenou o estudo e contou com a colaboração de diversas instituições internacionais. Entre os parceiros, destacaram-se a Universidade de Copenhague, na Dinamarca, e o Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, nos Estados Unidos. Juntos, os cientistas se dedicaram a entender melhor os ambientes extremos que compõem a zona hadal.

Vida congelante no fundo do oceano
Esses ambientes se localizam a profundidades superiores a seis mil metros abaixo do nível do mar. Por isso, abrigam um dos ecossistemas menos explorados da Terra. Até pouco tempo, os cientistas acreditavam que a diversidade microbiana nessas regiões era bastante limitada. Eles justificavam essa suposição pelas condições severas, como a enorme pressão hidrostática, as temperaturas próximas ao congelamento e a escassez de nutrientes — fatores que dificultam o surgimento e a manutenção da vida.
No entanto, o cenário começou a mudar quando o Projeto MEER (Pesquisa Ambiental e Ecológica da Fossa das Marianas) intensificou suas atividades. A equipe utilizou o submersível Fendouzhe, que suporta até 220 kg e realiza missões de até seis horas, para coletar uma quantidade muito maior de amostras do que em estudos anteriores.

O que eles descobriram?
Entre agosto e novembro de 2021, os pesquisadores realizaram 33 mergulhos em três regiões distintas: a Fossa das Marianas, a Fossa de Yap e a Bacia das Filipinas. Durante essas operações, eles coletaram 1.648 amostras de sedimentos, 12 amostras filtradas de água do mar e diversos espécimes de macroorganismos, todos em profundidades entre seis mil e 10,9 mil metros.
Em seguida, os cientistas aplicaram o sequenciamento metagenômico em larga escala para identificar a diversidade microbiana e entender as estratégias de adaptação dessas espécies à zona hadal. Eles publicaram os resultados detalhados na renomada revista científica Cell.
A análise revelou um total de 7.564 espécies microbianas. Desse número, 89,4% nunca haviam sido descritas anteriormente. Além disso, os dados apontaram níveis extraordinariamente altos de novidade, diversidade e heterogeneidade microbiana, especialmente entre procariontes e vírus.
O estudo também destacou duas espécies marcantes da macrofauna hadal. O anfípode Hirondellea gigas demonstrou a capacidade de realizar trocas populacionais horizontais entre trincheiras oceânicas. Já o peixe-caracol Pseudoliparis swirei mostrou um padrão de invasão vertical, com vertebrados migrando das zonas mais rasas para os ambientes profundos da zona hadal.
Por fim, os cientistas concluíram que a seleção ambiental desempenha um papel decisivo na estruturação da comunidade microbiana do oceano profundo. Ao contrário do que muitos acreditavam, a deriva genética aleatória não define a composição dessas comunidades. Além disso, os pesquisadores observaram que essas espécies compartilham mecanismos de adaptação com a macrofauna e desenvolveram sistemas fisiológicos altamente eficientes para suportar a extrema pressão do ambiente hadal.
Fonte: Olhardigital