22.05.2025 23H55
O anúncio do governo Lula (PT) sobre o congelamento de R$ 31,3 bilhões no Orçamento federal movimentou intensamente o mercado financeiro nesta quinta-feira (22). Logo após a divulgação, a Bolsa de Valores brasileira (B3) ultrapassou os 138 mil pontos, enquanto o dólar comercial apresentou forte queda. No entanto, esse cenário mudou rapidamente. A moeda americana reverteu a tendência e voltou a subir, enquanto o Ibovespa terminou o dia em baixa.
Inicialmente, o dólar caiu 0,58% e chegou a ser negociado a R$ 5,61. Mesmo assim, encerrou o dia com alta de 0,32%, cotado a R$ 5,66. Já o Ibovespa recuou 0,44%, fechando aos 137.272,59 pontos.
A reação negativa do mercado tem múltiplas causas. Embora o congelamento de gastos tenha sido bem recebido em um primeiro momento, o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) anunciado em seguida trouxe insegurança aos investidores. Além disso, o aumento das despesas públicas e a queda na arrecadação federal contribuíram para o pessimismo.
Dólar alterna entre queda e valorização
Durante a manhã, o dólar comercial chegou a cair três centavos em relação ao fechamento anterior, que foi de R$ 5,64. Após o anúncio do contingenciamento, a cotação caiu para R$ 5,61. No entanto, a moeda ganhou força ao longo da tarde e encerrou o dia com valorização, superando a marca anterior e chegando a R$ 5,66.
No segmento de câmbio turismo, o comportamento foi semelhante. O dólar chegou a atingir R$ 5,88, mas por volta das 15h41 era vendido a R$ 5,85, com queda de 0,35% em relação ao dia anterior. Contudo, o valor voltou a subir e terminou com leve recuo de 0,13%, cotado a R$ 5,86.
Ibovespa sobe, mas depois perde força
O Ibovespa começou o dia em alta, refletindo o otimismo inicial com o corte de gastos. Após uma queda de 1,59% na quarta-feira, o índice operava em estabilidade até as 14h14, quando os primeiros rumores sobre o congelamento começaram a circular. Com isso, o índice disparou e superou os 138 mil pontos. Às 15h22, registrava alta de 0,38%. No entanto, a notícia do aumento do IOF reverteu o movimento e levou o índice a fechar em queda.
Segundo analistas, o principal fator para essa virada foi a combinação de medidas que geraram insegurança. “O mercado está reagindo muito mal ao aumento do IOF”, afirma Felipe Sant’Anna, especialista em investimentos do grupo Axia Investing. Para ele, o clima entre os investidores é de desânimo. “É como um velório”, resume.
Gastos em alta e arrecadação em baixa preocupam o mercado
O aumento das despesas públicas também foi mal recebido. De acordo com o Relatório de Avaliação do Orçamento, os gastos devem crescer acima de 4% em relação à inflação projetada para 2025. “Controlar esse avanço continua sendo um grande desafio”, comenta Rafaela Vitoria, economista sênior do Banco Inter.
A arrecadação do governo, por sua vez, sofreu uma queda relevante. “O mercado inicialmente ficou otimista com o congelamento”, explica André Valério, também do Banco Inter. “Mas os comentários do Ministro da Fazenda, alertando sobre a queda na arrecadação provocada pela greve da Receita Federal, derrubaram esse sentimento e reverteram a queda do dólar.”
Cenário externo adiciona incertezas
Além dos fatores internos, os investidores seguem atentos ao cenário internacional. A aprovação de um projeto de lei nos Estados Unidos, que prevê cortes de impostos e pode adicionar cerca de US$ 3,8 trilhões à dívida pública americana — atualmente em US$ 36,2 trilhões — aumentou o nível de instabilidade nos mercados.
Para Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, o momento é de incerteza. “O mercado navega entre sinais positivos do cenário doméstico e preocupações fiscais vindas do exterior. Essa combinação tem gerado bastante volatilidade nos ativos brasileiros”, conclui.
